Refletir sobre a maternidade transcende a esfera puramente familiar, adentrando o domínio da gestão empresarial, da equidade e do apoio coletivo. No presente texto, destaco os desafios enfrentados por mães que se veem na difícil tarefa de conciliar trabalho e cuidados com os filhos, ressaltando a importância fundamental de empresas e indivíduos em fornecer um suporte efetivo. Com base em minha experiência tanto pessoal quanto profissional, almejo provocar uma reflexão sobre como podemos edificar um ambiente de trabalho mais inclusivo e sustentável para todas as mães.
Por sua vez uma mãe trabalhadora traz consigo uma gama de atributos positivos que enriquecem não apenas sua vida profissional, mas também o ambiente ao seu redor. Sua capacidade de gerenciar múltiplas responsabilidades, tanto no trabalho quanto em casa, demonstra sua resiliência e habilidade de enfrentar desafios com determinação. Além disso, sua experiência na maternidade muitas vezes se traduz em competências essenciais no ambiente de trabalho, como empatia, negociação, gerenciamento de tempo, habilidades de comunicação eficazes e capacidade de resolução de problemas sob pressão. Sua visão abrangente da vida, equilibrando as demandas da carreira com as necessidades familiares, oferece uma perspectiva valiosa que pode inspirar e motivar colegas de equipe e líderes empresariais.
Considerar as necessidades das mães e a dinâmica da maternidade vai além das fronteiras do aspecto familiar, permeando áreas-chave como empreendedorismo, gestão empresarial, compliance e conformidade, além de se integrar ao espectro do ESG e das estratégias de marca. Reconheço plenamente os desafios intrínsecos à maternidade, no entanto, demitir uma mãe no retorno da licença maternidade não deve ser encarado como a única alternativa viável. Da mesma forma, forçar uma mãe a empreender como única saída para sustentar sua família não é uma solução adequada, embora, lamentavelmente, muitas vezes seja a realidade.
Recentemente, ao acompanhar minha filha em uma consulta médica, recebi um atestado de seis dias com a observação “necessita de acompanhamento”. Este episódio me remeteu a diversas conversas com colegas e amigas que, por vezes, ignoram tais atestados e enviam seus filhos para a escola. Essa situação evidencia uma lacuna entre as necessidades reais das mães e a estrutura oferecida pelas instituições.
Ademais, a discrepância entre a carga horária de trabalho e a disponibilidade de suporte para as mães é notável. Para uma mãe desempenhar suas funções das 8h às 18h, seria necessário contar com apoio das 7h às 19h, totalizando 12 horas entre escola e rede de suporte. Frequentemente, famílias recorrem a avós, tias, irmãos mais velhos, vizinhas e, em muitos casos, horas extensas de tempo livre para as crianças, muitas vezes preenchidas com atividades digitais.
Enquanto algumas crianças enfrentam uma sobrecarga de atividades extracurriculares, outras enfrentam períodos de inatividade. Recentemente, em uma conversa com uma mãe de um colega de classe de minha filha, descobri que ela estava enfrentando dificuldades com o horário integral da escola. Diante dessa situação, a alternativa encontrada foi retirar a criança da escola e levá-la para a empresa, onde os pais atuam como sócios, ou buscar auxílio de parentes.
É inegável que essa equação apresenta desafios consideráveis. Entretanto, acredito firmemente que encontrar soluções eficazes demanda uma abordagem coletiva. Não se trata apenas de atribuir culpas, seja às empresas, às mães ou ao Estado. Em meu caso pessoal, mantive minha rede de apoio próxima ao mudar-me para uma região onde tenho acesso facilitado à assistência de minha mãe, irmã e irmão, num raio de 300 metros. Mesmo assim, reconheço a dificuldade e os momentos de sobrecarga que enfrento. Como lidam as outras mães com essa realidade? Muitas enfrentam uma carga emocional intensa, marcada por sentimentos de culpa, exaustão, burnout, estresse e julgamentos.
Um provérbio africano ressalta que é necessário uma aldeia para criar uma criança, contudo, nossa sociedade parece adotar a abordagem oposta, atribuindo às mães toda a responsabilidade e desafios associados à maternidade.
Portanto, meu objetivo ao compartilhar estas reflexões não se restringe apenas a expressar queixas, mas também a oferecer sugestões e insights neste período especial. Minha primeira sugestão é: se você não é mãe, evite julgamentos e torne-se um apoio para alguém que necessita. No ambiente corporativo, como sua empresa pode oferecer suporte às mães de sua equipe? Como vocês têm lidado com atestados de acompanhamento? Estão atuando como uma rede de apoio para as mães ou simplesmente observando e julgando? Como você tem estruturado sua rotina para tornar sua vida mais leve? Talvez, ao pensarmos de forma coletiva, possamos encontrar soluções mais eficazes para esses desafios.