Feiras e Congressos são excelentes oportunidades para contato direto com diversos franqueadores, permitindo comparar modelos de negócios, entender as particularidades de cada segmento e avaliar o potencial de retorno do investimento.
Para o investidor, contar com o auxílio de um advogado especializado na leitura e interpretação da COF é uma medida de segurança imprescindível. Esse documento deve detalhar aspectos essenciais do negócio, como histórico da empresa, balanços financeiros, descrição do suporte oferecido, obrigações do franqueado, estimativas de investimento e cláusulas contratuais. É nele também que constam informações sobre litígios judiciais envolvendo a franqueadora, algo que pode indicar problemas estruturais ou riscos futuros.
Para empresários que consideram expandir seus negócios por meio do modelo de franquias: é possível identificar tendências do mercado, analisar o posicionamento de concorrentes, conhecer fornecedores, avaliar novas tecnologias e entender as expectativas de potenciais parceiros ou investidores. Muitas vezes, a decisão de transformar um negócio em franquia surge após esse tipo de imersão no ecossistema do franchising.
No entanto, decidir expandir é um dilema que exige cautela. Como costumo dizer, “para quem não sabe aonde quer chegar, qualquer caminho serve”. Essa frase ilustra bem a encruzilhada enfrentada por empresários que, depois de consolidarem suas operações, sentem que chegou a hora de dar o próximo passo. O crescimento pode parecer o movimento natural quando a empresa apresenta processos estruturados, equipe comprometida e a marca começa a conquistar mercado. Mas a forma de realizar essa expansão precisa ser muito bem pensada.
Há, basicamente, três caminhos possíveis para quem quer crescer: manter operação própria e abrir novas unidades, tornar-se franqueador ou integrar-se a uma rede como franqueado. Nenhum desses caminhos é automaticamente certo ou errado. Tudo vai depender do momento da empresa, da solidez financeira, da capacidade de gestão e, sobretudo, da visão de longo prazo do empreendedor.
Expandir com unidades próprias pode parecer o percurso mais seguro, pois é aquilo que o empresário já conhece. No entanto, exige capital elevado, dedicação extrema e uma equipe qualificada para manter a padronização e a qualidade do serviço ou produto. A gestão de múltiplas unidades amplia exponencialmente a complexidade do negócio e expõe o empresário a riscos de perda de controle operacional e de diluição da cultura empresarial.
Transformar-se em franqueador, por sua vez, pode ser um passo poderoso. Entretanto, é um processo que vai muito além de simplesmente replicar um modelo que deu certo. Envolve criar manuais detalhados, desenvolver treinamentos eficazes, estabelecer canais robustos de suporte, preservar a essência da marca e, acima de tudo, construir uma relação sólida e transparente com os futuros franqueados. Franquear significa multiplicar um propósito, o que exige estrutura jurídica, financeira e operacional bem definida. E, como você bem colocou, “um negócio só é franqueável quando é lucrativo, replicável e independente da figura central do fundador.” Muitas marcas possuem potencial, mas não estão prontas para franquear, e reconhecer essa limitação é, na verdade, um ato de maturidade empresarial.
Nos últimos meses, vimos um exemplo emblemático sobre a importância de estrutura e preparo: o caso envolvendo a Cacau Show, a maior rede de franquias do Brasil. Conforme noticiado por veículos como Folha de S.Paulo e Metrópoles, houve relatos de franqueados sobre obrigações contratuais consideradas desproporcionais, dificuldades operacionais e cobranças que comprometeram a viabilidade financeira de algumas unidades. O Ministério Público do Trabalho (MPT) instaurou inquérito para investigar a situação, e uma associação de franqueados foi criada. Mesmo negando as alegações, a franqueadora manteve um posicionamento discreto. O episódio serve de alerta para o mercado, mostrando que mesmo marcas consolidadas podem enfrentar turbulências caso não mantenham mecanismos sólidos de escuta ativa, transparência e prevenção de conflitos. É a prova de que formatação de franquia não é apenas papelada, mas envolve governança, compliance, contratos equilibrados e cultura organizacional forte.
Por outro lado, tornar-se franqueado também é uma alternativa estratégica. Operar sob o guarda-chuva de uma marca consolidada, com processos testados e suporte contínuo, pode reduzir significativamente os riscos do negócio. Para empresários que desejam crescer com mais previsibilidade, essa pode ser uma escolha inteligente. Mas isso não significa abrir mão de análise criteriosa. A decisão de integrar-se a uma rede exige leitura minuciosa da COF, benchmarking com franqueados ativos e desligados, e avaliação da postura da franqueadora, especialmente em cenários de crise. Negligenciar essa análise pode resultar em frustrações profundas e até em litígios complexos.
Independentemente do caminho escolhido, o essencial é que a decisão de expandir seja pautada em estratégia, consciência e realismo. O crescimento não deve ser uma resposta automática à vaidade ou à pressão do mercado, mas sim um movimento calculado, alinhado com os objetivos da empresa e sustentado por bases sólidas. É comum ver empresas que se apressam a escalar antes de estarem prontas, apenas para descobrir que seus problemas internos foram multiplicados junto com as novas unidades. Quando isso acontece, os prejuízos não são apenas financeiros, mas também reputacionais.
Além disso, é importante reconhecer que crescer, por si só, não garante longevidade. Em um mercado cada vez mais dinâmico, o risco não está apenas em escolher o caminho errado, mas também em permanecer parado. Empresas que resistem à inovação, que ignoram movimentos do mercado ou deixam de ouvir seus clientes correm sério risco de perder relevância. A sustentabilidade de uma marca está diretamente ligada à sua capacidade de se adaptar, inovar e manter o olhar atento às transformações que a cercam.
Em síntese, crescer com consciência é entender que expansão não é só abrir novas portas, mas sim ampliar impacto, fortalecer processos, melhorar a experiência do cliente e consolidar o posicionamento da marca. Seja como franqueador, franqueado ou mantendo operação própria, o que move negócios saudáveis é a clareza de onde estão, para onde querem ir e com quem vale a pena caminhar.
Mas além da direção, é preciso ritmo. Negócios não sobrevivem na estagnação. O movimento é essencial, seja para crescer, para transformar ou para se reposicionar. E esse movimento só faz sentido quando é guiado por escolhas estruturadas, alinhadas e, acima de tudo, sustentáveis.